Um bom currículo ajuda bastante, mas não garante o sucesso.
Existe uma habilidade fundamental para o sucesso e até sobrevivência profissional que geralmente não está estampada em seu currículo.
Mas antes de revelar esta habilidade vou contar uma breve história pessoal.
Quando eu era pré adolescente fiz um curso de datilografia e rapidamente passei a ostentar este aprendizado em meu pequeno currículo. Fiz isto com muito orgulho e satisfação pessoal.
Com o passar dos anos e a chegada dos computadores pessoais, esta habilidade perdeu totalmente o sentido.
Atualmente, quem se importa se eu consigo datilografar 75 palavras por minuto sem erros e sem olhar para o teclado, quando se pode elaborar um texto e editá-lo quantas vezes quiser, no melhor estilo “cata milho”, antes de imprimir?
Para mim, a datilografia demorou uns 10 anos para perder a importância e evidentemente já faz muito tempo que não está em meu currículo.
E as mudanças estão cada vez mais aceleradas.
Para cada profissão que desaparece (datilógrafo, por exemplo) surgem dezenas de novas oportunidades. E cada vez mais uma maior necessidade de especialização.
A indústria como um todo está num processo de transição muito rápido.
Basta ver que empresas como Uber, AirbnB, Netflix, WhatsApp e Spotify, desconhecidas a pouco tempo, já dominam seus respectivos mercados.
Energia Solar fotovoltaica, carros elétricos, internet das coisas (IoT) e exploração espacial por empresas privadas é apenas o começo de uma revolução em nossos conceitos atuais.
Novos mercados surgirão e novas regras serão necessárias.
O que é mais valorizado hoje em dia? Uma pessoa com um belo currículo e que segue as regras, ou uma pessoa que sabe caminhar por onde não existem regras e ao longo do caminho escreve o seu próprio livro de regras?
A resposta é que, num mundo em constante mutação, precisamos cada vez mais de pessoas que saibam escrever as regras do jogo. Esta é a nova habilidade fundamental para o sucesso.
Pessoas assim muitas vezes não freqüentaram uma faculdade e muitos abandonaram os seus cursos.
Michael Dell, Bill Gates, Mark Zuckberg, Larry Page, Elon Musk e Steve Jobs são um exemplo disso.
Abandonaram suas faculdades, escreveram seus livros de regras e criaram empresas do zero.
Nenhum deles pediu permissão para fazer isto. Apenas entraram em ação.
Não estou dizendo que devemos abandonar uma faculdade nem deixar de fazer uma graduação. Eu mesmo fiz engenharia eletrônica e se fosse começar novamente não hesitaria em concluir minha graduação.
Mas….
Sim, existe um grande mas aí. Um curso de graduação é ótimo para nos ensinar a seguir regras….mas não nos ensina a escrever nossas próprias regras.
E aí está um ponto chave. Nunca irá existir um curso que ensine a escrever novas regras. Ou pelo menos regras que irão funcionar.
Isto faz da habilidade de criar novas regras algo único, intrínseco á vontade humana e não replicável.
As regras que funcionaram no passado podem não funcionar hoje. Quem dirá no futuro.
Um bom currículo representa bem o passado. Coisas que já aprendemos e realizações que já fizemos.
Isto certamente é um ótimo indicador de nosso potencial. Porém quando temos que jogar fora o velho livro de regras e caminhar num terreno desconhecido, as lições anteriores não necessariamente irão garantir o sucesso.
Temos que aprender a escrever nosso novo livro de regras. Temos que saber trocar a turbina de nosso avião com ele em pleno vôo.
Elon Musk, fundador da Tesla e SpaceX, possui um processo peculiar de contratação do qual destaco quatro pontos:
- Pergunta ao candidato um problema que resolveu no passado.
- Faz o candidato resolver um problema durante a entrevista. Geralmente um problema conceitual de física ou engenharia.
- Não se preocupa com graduação. Ou seja, graduação é um ponto positivo, porém a capacidade de resolver problemas é mais relevante para Musk.
- Procura candidatos com atitudes positiva e talentosos.
Abandonar o currículo significa admitir para nós mesmos que a capacidade de escrever novas regras e resolver novos problemas é muito mais importante do que toda a habilidade e aprendizados que adquirimos no passado.
Abandonar o currículo é também um sinal de humildade. Reconhecer que aquilo que funcionou para nós no passado não irá necessariamente funcionar no futuro.
O que aprendemos no passado será útil se nos ajudar a enfrentar terrenos desconhecidos com maior habilidade.
Quando uma industria se transforma, ou mostra sinais de mudança, muitos ficam preocupados, tentam se proteger, e manter o status quo. Observam tudo na esperança que permaneça como sempre foi.
Poucos se lançam no obscuro, no duvidoso e escrevem seus livros de regras e desenham seus mapas.
A maioria se “lasca” e é atropelado pelas mudança. Algum tempo depois se perguntam como aqueles poucos tiveram a “sorte” de adquirirem a liderança num mercado totalmente novo.
Quando Steve Jobs foi demitido da Apple, empresa que havia criado, ficou profundamente revoltado. Mas depois do impacto inicial viu nisto uma oportunidade de começar tudo novamente.
Foi neste período que se tornou investidor e CEO da Pixar, e sua participação foi fundamental para tornar a Pixar num sucesso multi bilionário.
Jobs escreveu um novo livro de regras para a Pixar e transformou não apenas uma empresa mas como todo o mercado de animação.
Da mesma forma, temos que ter a coragem de abandonar o nosso currículo e começar tudo novamente a cada dia.
Evidentemente não estou dizendo que o aprendizado anterior não tem importância. Porém creio que a importância de toda nossa experiência passada estampada em nosso currículo, é a capacidade de escrever um novo livro de regras. Saber desenhar um novo mapa.
O que o seu currículo revela? Uma capacidade de estabelecer novas regras e desenhar o seu próprio mapa, ou apenas que você segue padrões pré estabelecidos e possui dificuldade para mudanças?
Arriscar coisas novas. Correr o risco de passar vergonha. Desenhar o seu próprio mapa. Isto é abandonar o seu currículo.