Coragem é o primeiro atributo que nos vem à mente quando pensamos em um herói.
Falamos aqui daquela coragem que representa o destemor diante do perigo, desejável tanto para os heróis da HQ quanto para os astronautas da Nasa.
Mas esta qualidade, que na descrição clássica das virtudes cardeais também pode ser nominada como fortaleza, vai muito além da bravura típica do herói que cruza o espaço.
Antes de falar sobre as manifestações da coragem, volto aos gregos para lembrar que, tal como qualquer virtude, ela é fruto de equilíbrio.
Excesso de coragem é temeridade. Falta é covardia.
A virtude, diz Aristóteles, está no meio. Entre o excesso e a falta, aí está a dose exata da coragem que buscamos.
Em “Pequeno Tratado das Grandes Virtudes”, o filósofo francês André Comte-Sponville lembra que a coragem é admirada tanto por sábios quanto por tolos e que pode estar tanto a serviço do bem quanto do mal.
Portanto, recomenda o autor, é importante delimitar a coragem que admiramos: é aquela carregada de sentido moral praticada para combater o mal, para servir a outrem ou a uma causa generosa.
Volto agora à extensão do que seja coragem. No sentido mais recorrente, é a já citada bravura.
Encontramos coragem também naquilo que São Tomás de Aquino descreve como força de alma.
Portanto, encontramos a coragem não apenas em oposição à covardia, mas também ao combater a apatia, o desânimo e a preguiça.
Sabemos bem que na vida cotidiana será mais esta a forma de coragem que precisaremos encontrar. Ninguém espera de nós que matemos leões para salvar donzelas e criancinhas.
Mais provável é que precisemos de coragem para mudar de emprego, para demitir um subordinado, para apresentar uma nova ideia, para começar um novo negócio, para investir com ousadia.
“Ter coragem não é algo que requeira qualificações excepcionais, fórmulas mágicas, ou combinações especiais de horas, lugar e circunstância. É uma oportunidade que, mais cedo ou mais tarde, é apresentada para cada um de nós.”
John F Kennedy
Comte-Sponville também nos faz uma alerta importante: a coragem é fruto de um exercício constante.
Ter sido corajoso no passado não indica que seremos novamente. Não sem esforço. Aliás, quase toda a virtude exige de nós esforço permanente.
Nos dias que vivemos, com crises constantes e violência para onde quer que se olhe, é preciso grande coragem para seguir com nossos propósitos pessoais e profissionais.
Ter coragem, nestes tempos, é acima de tudo não se deixar paralisar pelo medo.